Tin Hinan: empoderando mulheres indígenas no Sahel

Você conhece o trabalho da nossa organização-membro Tin Hinan, composta por mulheres indígenas do Sahel? Entrevistamos Saoudata Aboubacrine, secretária-geral da organização, que nos contou sobre a história da associação, seus principais campos de atuação e as estratégias que adotam para enfrentar os desafios na luta pelos direitos à terra e aos territórios. Para saber mais sobre a Tin Hinan, acesse o site da organização.

Você pode nos contar brevemente a história da organização?

A Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Nômades (Tin Hinan) foi fundada em 1994, em Burkina Faso, para ajudar mulheres refugiadas do Mali e do Níger que viviam em comunidades pastorais. A organização foi registrada oficialmente em Burkina Faso em 1997, no Mali em 2003, no Níger em 2005 e no Canadá em 2016.

Tin Hinan é uma organização sem fins lucrativos que, ao longo do tempo, direcionou suas ações para o desenvolvimento comunitário, sem deixar de prestar assistência a populações em situações de crises ou desastres naturais.

Quais são os principais eixos de trabalho da organização?

Tin Hinan atua em prol do desenvolvimento local integrado, com iniciativas humanitárias e de incidência política em benefício de mulheres e meninas, populações pastorais, indígenas e outros grupos vulneráveis. Seus principais eixos de trabalho são:

1. Fortalecer a capacidade de recuperação e resiliência de comunidades vulneráveis e grupos populacionais por meio de ações como:

  • Facilitar o acesso a meios de produção e subsistência;
  • Promover um ambiente favorável à criação de uma cadeia de valor agregado;
  • Proteger o meio ambiente e combater os efeitos das mudanças climáticas;
  • Apoiar a proteção da biodiversidade por meio do fortalecimento de capacidades das comunidades, conscientização e identificação e valorização de plantas úteis;
  • Incentivar a economia local e familiar, especialmente em áreas rurais, por meio do acesso às microfinanças..

2. Promover os direitos humanos, especialmente de grupos vulneráveis, por meio de ações como:

  • Estimular o acesso, a permanência e o sucesso escolar de crianças, especialmente meninas;
  • Educação em direitos humanos e fortalecimento das organizações de mulheres;
  • Capacitação das comunidades de base por meio de alfabetização e formações técnicas;
  • Promoção do acesso a informações sobre serviços de saúde, especialmente para mulheres e crianças;
  • Combate à violência baseada em gênero.

3. Fortalecer as capacidades das comunidades para sua autonomia socioeconômica, por meio de:

  • Desenvolvimento de habilidades em tecnologias e gestão da produção, rotulagem e comercialização;
  • Formação de organizações de mulheres e jovens em vida associativa, gestão de conflitos, coesão social e paz;
  • Comunicação, incidência política, conscientização e sistematização de conhecimentos e experiências.

4. Oferecer serviços técnicos, como:

  • Apoio ao programa de segurança alimentar em comunas de Tombuctu, Ber e Salam, entre 2009 e 2012, em parceria com a cooperação suíça, por meio de um projeto de capacitação em gênero, direitos humanos, incidência política e comunicação, financiado pelo Fundo Comum de Gênero (FCG);
  • Parceria com o ACNUR em Burkina Faso para assistência a refugiados malianos, de 2012 a 2017;
  • Colaboração com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) na elaboração de um perfil de gênero.

Além disso, a Tin Hinan oferece assistência a refugiados, deslocados e vítimas de desastres, por meio de ações de emergência e atividades de desenvolvimento comunitário.

5. Trabalhar na criação de redes:
Nossa associação está presente nos três países do Sahel (Mali, Níger e Burkina Faso) e no Canadá, além de fazer parte de redes de organizações pastorais do Sahel e do mundo. Com o apoio da FJS, Tin Hinan criou uma plataforma de mulheres pastorais com membros em diferentes regiões e países.

Tin Hinan faz parte de várias redes, como:

  • Mulheres Pastorais do Sahel em Movimento/OAFA
  • Plataforma Feminista pela Terra e Territórios (FLP)
  • Coletivo de Feministas de Burkina (CFB)
  • Coalizão Internacional para o Acesso à Terra (ILC)
  • Coalizão Nacional de Mulheres de Burkina (CNF), em parceria com a WANEP
  • Plataforma OSCs para o Desenvolvimento Sustentável e REDD de Burkina Faso
  • Aliança para os Povos Indígenas e Comunidades Locais pela Conservação na África (AICA)
  • Aliança dos Povos Móveis (WAMIP)
  • Fórum Internacional de Mulheres Indígenas (FIMI)
  • Rede de Povos Indígenas Africanos (AIPN)
  • Rede Internacional de Observadores dos Fundos de Mudança Climática (SAN)
  • Comitê de Segurança Alimentar Mundial (CSA)
  • Fundação Slow Food, por meio da sentinela Katta de Tombuctu e Gao

Além disso, Tin Hinan acompanha as negociações sobre mudanças climáticas que levaram ao Acordo de Paris na COP 21 e, desde então, participa regularmente das diferentes COPs sobre o clima. A organização também participou de COPs da Convenção sobre Biodiversidade e da COP 16 sobre Desertificação em Riad.

A organização é também membro fundadora de uma rede saheliana de paz transfronteiriça formada por mulheres do Mali e da Burkina Faso, criada no âmbito de um projeto apoiado pela União Europeia em parceria com a Handicap Internacional (FORCE), com o objetivo de aumentar a participação das mulheres em iniciativas de paz, desenvolvido entre 2014 e 2016.

Quais são os principais desafios enfrentados por Tin Hinan, e como vocês resistem e se organizam?

Tin Hinan é uma organização de mulheres pastorais e indígenas atuando em uma região do Sahel marcada pela insegurança e pelos efeitos das mudanças climáticas. Diante desses desafios, a organização desenvolve notáveis estratégias de adaptação e resiliência.

As comunidades-alvo são, principalmente, mulheres e meninas. Apesar de sua vulnerabilidade, a associação permanece ativa e engajada em seus diversos domínios de atuação, tanto em âmbito local quanto nacional, regional e internacional, por meio das estratégias mencionadas acima.

Como a Plataforma Feminista pela Terra e Territórios contribui para o trabalho de Tin Hinan?

A Plataforma Feminista pela Terra e Territórios (FLP) desempenha um papel importante no apoio ao trabalho da Tin Hinan. Como membro da FLP e de outras redes, a organização se beneficia de parcerias em campo e de incidência política nos níveis regional e internacional.

Graças à FLP, a Tin Hinan conseguiu capacitar mulheres, meninas e comunidades de Tin Heiti, na região de Tombuctu, em relação ao acesso à terra. O papel das mulheres e meninas na conservação das terras e da biodiversidade foi valorizado, permitindo trocas enriquecedoras entre essas mulheres e outros grupos da Rede de Mulheres Pastorais do Sahel em Movimento. Essas interações também incluíram representantes de instituições nacionais, organizações da sociedade civil e especialistas em meio ambiente, biodiversidade e conservação, que continuam sendo nossos parceiros técnicos e financeiros.

Em colaboração com a FLP e com o apoio da Fundação Ford, da Oxfam Internacional e do Ministério de Promoção da Mulher e Solidariedade de Burkina Faso, Tin Hinan participou da 67ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW) das Nações Unidas em Nova York em 2023, junto com outras integrantes da Plataforma.

À margem do Fórum Regional da IUCN, em junho de 2024, em Nairóbi, as organizações de mulheres membros da FLP na África, incluindo Tin Hinan, realizaram uma reunião e acompanharam as atividades da IUCN e da AICA. Essa oportunidade as permitiu compartilhar experiências positivas, desafios e perspectivas sobre as ações da Plataforma no continente africano.

Em conclusão, o trabalho da FLP possibilita uma rede de solidariedade entre organizações de mulheres e meninas do Sul Global, fortalecendo o engajamento local e consolidando diálogos em todos os níveis. Além disso, a FLP oferece a suas integrantes a oportunidade de trocar experiências com outros atores, criando amplas facilidades para parcerias.